O trabalho de Argel Fucks está em xeque. E será reavaliado pela direção. Será cobrado na reunião desta segunda-feira para que defina um time titular e uma maneira uniforme de atuar. Ao deixar o Beira-Rio, rumo ao estacionamento, o técnico foi vaiado por cerca de 30 torcedores e, alguns deles, chegaram a jogar água na direção do técnico. A segurança, porém, impediu que a torcida se aproximasse do treinador. A passagem de Argel pelo Inter depende de uma urgente vitória sobre o Santa Cruz, em Recife.
Os erros cometidos por Argel no Gre-Nal 410, começando em casa o clássico com três volantes que tornaram o meio-campo ineficiente, trocando o time ainda no primeiro tempo depois de levar um gol, sacando Seijas quando o Inter buscava o empate, no segundo tempo, fazendo o time perder preciosos minutos de pressão, e culminando com a primeira derrota para o Grêmio no novo Beira-Rio, deixaram o técnico colorado em situação vulnerável para a sequência de seu projeto colorado.
Além de perder a segunda consecutiva em casa, no Campeonato Brasileiro, o Inter de Argel soma apenas um ponto nos últimos 15 disputados. Mas, além disso tudo, há um elemento ainda mais desfavorável ao treinador: o clássico matinal entrou para a história, pelo áudio vazado por um amigo de Argel durante a semana, no qual o técnico do Inter diz que “domingo, se Deus quiser, e Deus quer, a gente arruma a casa e passa o trator por cima dos caras”. Ao final do clássico, Argel foi ironizado pelos jogadores do Grêmio.
A vertiginosa queda colorada no Brasileirão coloca em dúvida a capacidade da equipe para se manter entre os líderes. Se a primeira colocação já foi evaporada, rodadas atrás, jogo a jogo o Inter dá mostras que precisará se reinventar para buscar uma vaga à Libertadores 2017.
— Teremos que repensar muita coisa. Repensar o trabalho que está sendo feito e por que estamos com esses resultados negativos dentro de casa e com todo o apoio da nossa torcida — disparou o vice de futebol Carlos Pellegrini.
Ainda que o dirigente tenha destacado a superioridade do Inter no segundo tempo, sabe que o ataque colorado não conseguiu superar a zaga reserva do Grêmio.
— O segundo tempo foi nosso, tivemos oito oportunidades, enquanto que o Grêmio teve uma. Mas o momento é de responder sobre o resultado negativo — disse Pellegrini.
Questionado sobre o “trator”, o vice de futebol afirmou não acreditar que os atletas gremistas tenham se empolgado ainda mais para o clássico, devido à declaração de Argel — e ainda que os adversários tenham ironizado o técnico do Inter, ao final do jogo:
— Não teve combustível extra. O Grêmio fez um gol e se preservou. Não vi diferença de motivação entre os times.
Argel surgiu para a entrevista coletiva ciente do que representa perder um Gre-Nal. Como treinador, foi derrotado pela primeira vez em três clássicos. Tem uma semana para buscar a recuperação, a vitória sobre o Santa Cruz, neste domingo, em Recife. Questionado sobre uma possível demissão, devido à sequência de derrotas, ele se limitou a responder:
— Pressão é uma coisa normal no futebol. Tenho consciência que faço o meu melhor. Tô tranquilo. É uma coisa que é da diretoria. Procuro fazer o meu trabalho.
O treinador do Inter justificou o novo revés no Beira-Rio analisando que a equipe vem atuando bem em apenas metade do tempo. Segundo Argel, a sua equipe vem jogando mal a cada início de partida — desde a derrota para o Figueirense, 15 dias atrás. E justificou a substituição de Bob por Ferrareis ainda no primeiro tempo devido à derrota parcial e à necessidade do empate.
— Nessas derrotas, não fizemos bons primeiros tempos. Temos de buscar o equilíbrio, um jogo mais uniforme. E não esperar estar atrás do adversário para dar a resposta. No Gauchão, oscilamos também. Futebol não é como começa, é como termina — decretou Argel. — O aproveitamento nos últimos jogos não é bom. E precisamos buscar a recuperação o quanto antes para trazer de volta a tranquilidade e a confiança — acrescentou ele.
Ao ser questionado sobre os deboches gremistas, a respeito do “trator”, Argel deu de ombros e disse que a derrota no clássico não passou pelo áudio vazado:
— Não perdemos o jogo por causa disso. Ninguém fica em um clube só por motivação, as pessoas sabem como me comporto, e o respeito que tenho por todos. Motivação não ganha jogo, não é por esse caminho. E falar depois do resultado é muito fácil. E a gente viraria profeta do acontecimento.
Contratado em agosto do ano passado, em meio a uma forte crise do Inter, Argel agora depende de uma vitória para permanecer no clube.